Histórias
A história de Adriane Mary
A obesidade tirou a vida ao meu pai em 2018. Eu estava no segundo mês da minha primeira pós-graduação em nutrologia (uma especialidade médica no Brasil focada no tratamento de distúrbios alimentares).
Já era hipertenso, diabético, com lesões osteoarticulares, e tinha apneia do sono. Ele teve a maior parte das complicações que a obesidade traz consigo. E era médico; sabia muito mais sobre elas do que eu, que se tinha formado em medicina há apenas 3 anos. Mas apesar de algumas tentativas de perder peso, sem acompanhamento profissional adequado, evoluiu com complicações, e em 2018 morreu.
Desde então, já completei o meu quarto curso de nutrologia. Trabalho agora no sistema de saúde pública no Brasil, no programa Estratégia de Saúde da Família, que anualmente convida médicos a trabalhar em áreas mais remotas do país e a prestar cuidados primários em Unidades Básicas de Saúde. O meu trabalho envolve o rastreio de pacientes com maior risco cardiovascular e a tentativa de lhes ensinar a importância das mudanças de estilo de vida, do exercício físico e de hábitos alimentares saudáveis. Realizo grupos mensais com estes pacientes e faço avaliações antropométricas e de bioimpedância. Ensino-lhes como a obesidade pode ter consequências graves ao longo dos anos. Tento também sensibilizar os profissionais de saúde e a administração municipal para a importância de combater a obesidade e a síndrome metabólica, e consequentemente prevenir mais mortes por doenças cardiovasculares. A população precisa de estar consciente da importância da obesidade como uma doença. Só então procurarão um tratamento adequado.
O meu pai, sem dúvida, foi o médico mais atencioso, humano e dedicado que alguma vez conheci. Hoje sinto que o meu trabalho é uma missão, e mesmo com todas as dificuldades, tento fazer o meu melhor para ajudar todos os pacientes que posso.
Foto: Adriane com o seu pai em 2015. Cortesia da autora.
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